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domingo, 30 de maio de 2010

A tecelã


Toca a sirene na fábrica
e o apito como um chicote
bate na tua cama
no sono da madrugada.

Ternuras da áspera lona
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
às pressas tomas banho,
tomas teu café com pão,

De tudo quanto ele pede
dás só bom dia ao patrão,
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação.

Teces tecendo a ti mesma,
na mesma maquinaria,
como se entrasses inteira
na boca do tear e desses
a cor do rosto o e dos olhos
e o teu sangue à estamparia

Os fios dos teus cabelos
entrelaças nesses fios
e outros fios dolorosos
dos nervos de fibra longa.

Vestes as moças da tua
idade e dos teus anseios,
mas livres da maldição
do teu salário mensal,
com o desconto compulsório,
com os infalíveis cortes
de uma teórica assistência,
que não chega na doença
nem chega na tua morte.

Com essa policromia
de fazendas, todo dia,
ilumina os passeios,
brilha nos corpos alheios.

Toca a sirene da fábrica
e o apito como um chicote
bate neste fim de tarde,
bate no rosto da lua.
Vais de novo para o bote.
Navegam fome e cansaço
nas águas negras do rio.

Há muita gente na rua,
parada no meio-fio.
Nem liga importância à tua
blusa rota de operária.

Mauro Mota

Lembranças de Nazareth ( a tecelã) - Itajubá

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