Certa vez, alguns alunos conversavam no fundo da sala. A professora de línguas
pediu silêncio, mas eles continuaram. Ela foi mais enfática, chamou a atenção de um
aluno que falava alto. Ele foi agressivo com ela. Gritou: "Você não manda em mim!
Eu pago para você trabalhar!" O clima ficou tenso.
Todos esperaram que a professora gritasse com o aluno, ou o expulsasse da classe.
Em vez disso, ela ficou em silêncio, relaxou, diminuiu sua tensão e libertou sua
imaginação. Em seguida, contou-lhes uma história que aparentemente não tinha
nada a ver com o clima de agressividade.
Contou a história das crianças e dos adolescentes judeus que foram presos nos
campos de concentração nazista e perderam todos os seus direitos. Não podiam ir
às escolas, brincar nas ruas, visitar os amigos, dormir numa cama quentinha e se
alimentar com dignidade. O alimento era estragado, e eles dormiam como se fossem
objetos amontoados num depósito. O que era pior, não podiam abraçar seus pais. O
mundo desabou sobre eles.
Eles choravam e ninguém os consolava. Tinham fome e ninguém os saciava.
Gritavam pelos pais, mas ninguém os ouvia. Na frente deles apenas havia cães,
guardas e cercas de arame farpado. A professora contou o que foi um dos maiores
crimes já cometidos na nossa história. Roubaram os direitos humanos e a vida
desses jovens. Mais de um milhão de crianças e adolescentes morreram.
Depois de contar essa história, a professora não precisou falar muito. Olhou para a
classe e disse: "Vocês têm escola, amigos, professores que os amam, o carinho dos
seus pais, um alimento gostoso na sua mesa, mas será que vocês os valorizam?"
Ela resolveu conflitos em sala de aula levando-os a se colocar no lugar dos outros e
a pensar na grandeza dos direitos humanos.
Ela não precisou chamar a atenção do aluno que a ofendera. Sabia que não
adiantaria corrigir seu comportamento, e queria levá-lo a ser um pensador. Ele ficou
em completo silêncio. Voltou para casa e nunca mais foi o mesmo, pois
compreendeu que tinha muitas coisas belas que não valorizava.
Pais e professores estão perdidos no mundo das suas salas. Os professores estão
confusos dentro da sala de aula. Os pais estão sem direção dentro da sala de casa.
Não podemos aceitar que o lugar em que os jovens menos aprendam experiências
de vida seja dentro desses dois ambientes.
Aprendam a dar tapas com luva de pelica no coração emocional de quem vocês
amam. Precisamos acordar nossas crianças e nosso jovens para a vida. O afeto e a
inteligência curam as feridas da alma, reescrevem as páginas fechadas do
inconsciente.
Texto de A. Cury
TRISTEMENTE...NAZARETH!